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OPINIÃO: A tragédia de todos nós

Em janeiro de 2018 recebi a missão de participar da organização do lançamento do livro da jornalista Daniela Arbex, Todo dia a mesma noite, nos 5 anos da tragédia da boate Kiss. Não era um evento que eu gostaria de fazer. Também não era o livro que ela gostaria de escrever. Também não era vontade dos pais, dos profissionais de saúde e tantas outras pessoas estarem naquele evento. Ninguém queria. Foi triste, emocionante, revoltante.

Janeiro de 2019, dois dias antes de fechar o sexto ano daquele domingo triste de 2013, mais uma cidade chora por seus filhos. Brumadinho, um pequeno e lindo município de Minas Gerais sofre as consequências da ganância, da fome de poder e da falta de humanidade. A história se repete.

Já são mais de 80 mortos e passa dos 270 os desaparecidos num mar de lama que envolve empresários gananciosos e políticos sem caráter. Como sempre. Como aqui, como em Mariana, como em todos os lugares onde o dinheiro vale mais do que uma vida. Não consigo assistir às notícias, não consigo pensar nas pessoas que esperam por uma notícia de um filho, de um pai, uma mãe, de um amigo. Dias de sofrimento e muitas lágrimas. É triste demais. Uma dor que envolve a todos nós.

Lembrei do livro da Daniela. Ele fala de uma tragédia. A tragédia de todos nós. Não é deles, não é do outro. É nossa. Fala de dor, de amor, de sentimento, de perda, de solidariedade. E denuncia a nossa falência. A falência do caráter pela ganância. Escancara a impunidade, o descaso, o jeitinho, a falta de empatia, a desumanidade. Uma narrativa que se transforma num memorial contra o esquecimento. Não podemos esquecer. Nem da Kiss, nem de Mariana, nem de Brumadinho. Precisamos de uma tomada de consciência coletiva.

E mais uma vez janeiro deixa suas marcas. Que elas sejam tão profundas a ponto de nos transformar, porque tá puxado. Todos os dias assistimos denúncias de corrupção que nada mais são do que o resultado da fome de poder, de dinheiro, do ter sempre mais, onde os fins justificam os meios. Esquecemos que sairemos de cena da mesma forma que entramos, sem levar nada. Digo, levaremos sim tudo o que fizermos de bom, de bem pelo outro, de empatia, de amor. Levaremos conosco tudo aquilo que nos faz crescer, que nos faz melhor como seres humanos. Sairemos melhor do que chegamos se entendermos e praticarmos as mensagens daquele Nazareno que passou por aqui há mais de 2 mil anos.

Aqui, como em Mariana, como em Brumadinho, um sentimento nos une. São dias de muita emoção, de muitas lágrimas, de muitos abraços, de uma grande família que se solidariza pela dor. Precisamos lembrar para que não se repita, nunca, em lugar nenhum.

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